domingo, 16 de novembro de 2008

Mergulho na mente do artista

— Vamos para Oviedo. Lá, comeremos pratos deliciosos, beberemos bons vinhos e faremos amor. — Quem vai fazer amor? — Se tudo der certo, nós três. O diálogo acima acende o rastilho de Vicky Cristina Barcelona, a nova — e desconcertante — explosão do talento de Woody Allen. A cena, uma das primeiras do filme, é ambientada num restaurante em Barcelona. O diretor americano é um dos poucos a ter dois momentos de pico na carreira. O primeiro foi a virada dos anos 70 para os 80, quando criou, quase que em seqüência, seu tríptico de obras-primas: Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), Manhattan (1978) e Hannah e Suas Irmãs (1986). O segundo ocorre a partir do maior sucesso de público e crítica da carreira do cineasta, Match Point (2005), o melhor filme de Woody na opinião dele próprio. O qual, de certa forma, marca o início de outro trio de grandes filmes, junto com o esplêndido e subestimado O Sonho de Cassandra (2007) e, agora, Vicky Cristina Barcelona. Chega ao Brasil também neste mês um livro que merece ser lido logo antes ou logo depois de assistir a Vicky Cristina Barcelona: Conversas com Woody Allen, do jornalista americano Eric Lax. O livro é resutado do esforço jornalístico de uma vida inteira. Ele se compõe dos melhores momentos de dezenas de entrevistas que Lax fez com Woody ao longo de nada menos do que 36 anos — já que a primeira sessão data de 1971 e o livro foi lançado nos Estados Unidos no ano passado. Em tom de brincadeira, Lax costuma dizer que é a mais longa entrevista ainda em curso nos Estados Unidos. A edição é primorosa. Ela leva o leitor a acompanhar detalhamente a evolução do pensamento do cineasta. Conversas com Woody Allen possibilita, assim, a rara oportunidade de mergulhar na mente de um artista. As entrevistas mostram como seu processo criativo é uma construção consciente, baseada na identificação e resolução de problemas concretos. Vicky Cristina Barcelona é uma espécie de súmula do estilo de Woody, no sentido em que apresenta, magistralmente resolvidos, todos os problemas que o cineasta colocou a si próprio ao longo da carreira. Por isso, ler o livro e assistir ao filme em seguida — ou vice-versa — é uma experiência tão instigante. A LITERATURA COMO INSPIRAÇÃO Às vezes de forma consciente, às vezes inconscientemente, a literatura é uma referência constante nos filmes de Woody Allen. Nas conversas com Eric Lax, ele cita Faulkner e Hemingway como os escritores que mais o impressionaram num primeiro momento. Os dois gigantes do romance russo são sempre citados ¬— de Tolstói e Dostoiévski Woody não leu apenas a obra, mas também ensaios a respeito, segundo conta no livro. E há, claro, Tchekov. Sua peça As Três Irmãs é uma das inspirações para a terceira obra-prima da primeira grande fase de Woody, Hannah e Suas Irmãs. Vicky Cristina Barcelona tem duas influências literárias fortes. O filme começa com um narrador em off que define, em poucas palavras, as personalidades de Vicky e Cristina, mais ou menos como Jane Austen faz em seus romances. Mas o clima que permeia o filme, como notaram os críticos mundo afora, é mesmo o dos romances do escritor americano Henry James. Por João Gabriel de Lima – leia a matéria na íntegra na Revista Bravo! deste mês. O Filme:Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen. Com Scarlett Johansson, Rebecca Hall, Javier Bardem e Penélope Cruz. Estréia prevista para 14/11. O Livro:Conversas com Woody Allen, de Eric Lax. Editora Cosac Naify.

Um comentário:

Unknown disse...

Assisti o filme. Agora vou passar na Moviola para comprar e ler o livro.
Ótima opção para este final de semana com chuvas.

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