segunda-feira, 30 de maio de 2011

Mês dos Namorados na Moviola

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Aproveite nossas promoções e presentes para o Dia dos Namorados!
Cesta exclusiva!! (aceitamos encomendas)
Na cesta >>
1 garrafa de vinho rosé chileno, Santa Digna - 375ml
2 belas taças
2 porta copos
1 latinha de queijo fino président (importado)
1 caixa de bombom ferrero rocher
1 toblerone
2 trufas caseiras
3 barras de chocolate caseiro
1 geléia argentina
1 livro "Coração" de Marco Antonio Figueiredo (Poesia)

PROMOÇÃO!!!   Na compra de uma garrafa de vinho chileno Santa Digna 750ml, ganhe outra garrafa de Santa Digna Rosé, 375ml. IMPERDÍVEL!  Entregamos em domicílio!
(válido enquanto durar o estoque)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Um belo conto de Cynthia Magluta surgido na Oficina Literária da Moviola

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Sabrina bateu a porta com violência abandonando mais uma discussão com seus pais. Pedro e Camila mal se olhavam com medo de começarem a brigar também. Camila começou a chorar e Pedro ainda gritava que o comportamento de Sabrina só tinha uma explicação, só podia ser droga, muita droga. Era mais um final de semana que começava mal.

Foi procurar a culpada no quarto da filha. Ao entrar, cego de raiva, chutou o baú na entrada do quarto. Começou a remexer nas gavetas da velha cômoda. O guarda-roupa de duas portas abarrotado de vestidos, calças, blusas. Todas as peças organizadas por cor, roupas leves de verão, casacos de frio. As gavetas do armário com divisórias para melhor separar e acomodar as pequenas peças, meias, calcinhas. A raiva não impediu que Pedro admirasse a arrumação da filha. Pena. Tanta ordem parecia ser só para o quarto, porque ela não estudava, porque saía todos os dias e porque voltava tarde da noite, cada dia com um novo cara. Só podia ser droga.
Pintura de Fernando Gopal. Óleo sobre madeira,  30 x 40 cmBem no fundo do armário, encontrou a bonequinha de pano. Sabrina ainda a guardava. Sentou-se, abraçando-a. Encontrou uma enquanto parecia perder a outra. 
 
Ele a comprara na primeira viagem que fizera ao interior do Nordeste, viagem do novo emprego, salário melhor, mas com uma agenda intensa de visitas aos clientes em diversas cidades. Sabrina era pequena, devia ter uns 4 ou 5 anos. Adorou. Cabelo de lã verde, apliques de feltro para os olhos e a boca, vestidinho com diversas cores, fita verde e laço como gola. Elas eram inseparáveis, as duas bonequinhas de Pedro.

De tantas carícias, a bonequinha de pano perdeu a boca. Foi um corre-corre. Sabrina chorava que agora ela não ia saber se a bonequinha estava feliz. Pedro, que sempre gostara de desenhar e pintar, resolveu o problema. Com uma caneta pilot grossa fez um grande U vermelho no lugar da boca perdida. Mais feliz impossível. Vê, filha, ela fica sempre feliz com você. 
 
Sorriu ao lembrar-se de uma das viagens de férias. Sabrina já grandinha não queria levar a boneca, mas não sabia como deixá-la. Camila teve uma idéia. Colocaram a bonequinha sentada na janela de perninhas cruzadas esperando pela volta da família. Mãe, ela pode querer beber água. Um regador resolveu. Fica bonito com essas flores também, não é mãe? Regador com flores, bonequinha sentada na janela. Tudo pronto para a viagem. Jamais se esqueceria daqueles minutos preciosos. Percebia o que era a felicidade.

Em que fundo de armário perdera sua Sabrina? Pedia ajuda à bonequinha que tantas vezes ajudara a convencer a pequena Sabrina a compreender as alegrias, mas também os limites e as responsabilidades do crescimento. Levou a bonequinha para o escritório, que já tinha sido seu ateliê. Procurou o material de pintura para fazer reviver aquele instante de felicidade. Quase não tinha mais nada. 
 
No dia seguinte, levantou cedo e saiu em busca de tela, tintas, novos pincéis. Não sabia pintar de memória. Pediu ajuda a Camila, que adorava fotografar, e juntos refizeram a cena. Camila aguardou a luz certa, se divertiram com seu projeto.
Pintura de Fernando Gopal. Óleo sobre madeira 55 x 40 cmSabrina voltou no final do domingo. Os pais tinham saído para ir ao cinema, deixaram um recado e lanche na geladeira. Uma surpresa e tanto. Não ter briga na volta já era uma boa coisa. Foi dormir cedo. A rotina de segunda feira foi cumprida. Tomaram um café rápido e juntos.
O quadro foi tomando forma e dando tempo para Pedro e Camila reviverem emoções guardadas e quase perdidas. Sabrina não sabia o que acontecia, mas o clima familiar tinha um tom novo. Encontrava os pais conversando e rindo ao som de CDs que não ouvia há muito. Ficava em seu quarto ouvindo também através da porta entreaberta.

Os pais avisaram que iam passar o final de semana fora. Sabrina ficaria em casa. Antes de sair, Pedro e Camila deixaram o quadro embrulhado no quarto dela. Esperavam na volta reencontrar sua bonequinha. Sabiam o que podiam fazer.
O conto “A Bonequinha de Pano” foi escrito para a Oficina Literária que ocorreu na Livraria Moviola, em Laranjeiras, no Rio, sob a coordenação de Alexandre Faria e Oswaldo Martins. Foi uma resposta ao desafio de buscar interfaces entre a escrita e a imagem. As pinturas de Fernando Gopal, de mesmo título, estavam em exposição na livraria e serviram à autora como motivação para a criação do texto. (maio de 2011)

terça-feira, 17 de maio de 2011

“Lolita”, de Vladimir Nabokov

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Texto de Vinícius Jatobá, que ministra a oficina OFICINA DE JORNALISMO CULTURAL - "A escrita da resenha e crítica cultural" na próxima terça, 24/05.  Inscrições abertas!



Uma das maiores vitórias do humorismo do século passado, uma das narrativas mais extraordinárias e inesperadas já escrita, o romance Lolita, de Vladimir Nabokov, é reeditado no País pela Alfaguara em edição caprichada e nova tradução, de Sérgio Flaskman. Desde sua publicação original, em 1955, Lolita esteve envolvido em inúmeras polêmicas; jamais combalido, sempre saiu vitorioso de todas as tentativas de reduzi-lo e de matizá-lo: incensado como erótico e imoral, fulmiga o ardor do pornógrafo por sua quase completa ausência de erotismo após seus primeiros capítulos; aclamado como ícone de um romance popular, seu estilo é literário demais, e em certas passagens elíptico demais, para ser identificado com qualquer um dos discursos da narrativa de folhetim; quando reclamado pela alta cultura, toda sinistrice de Humbert Humbert e seu pensamento torto, envolta em uma narrativa demasiada estetizada, parece tentar lubridiar seu cinismo, sua vaidade e sua manipulação do foco da leitura de seu relato, gerando constrangimento, uma certa revolta por ter se deixado seduzir pelas palavras de um crimonoso que confessa seus crimes.



Acima de tudo, Lolita é uma comédia. O romance abre com um prefácio em que John Ray, Jr, que faz questão de informar ser um PhD, escreve que o livro em questão é um manuscrito de um criminoso que acaba de falecer antes do julgamento de seus crimes. Ele o classifica como horrível, abjeto, um exemplo de leprosidade moral; afirma que não é um cavalheiro. Que a honestidade de sua confissão não o torna menos culpado. Classifica o manuscrito em questão um clássico para os estudos de psiquiatria. É uma ladainha, paródia precisa que o satirista Nabokov sabiamente elege para alertar ao leitor dos riscos que ele, enquanto autor, irá infligi-los: serem sumamente seduzido por uma mente criminosa. O criminoso abjeto é, no fundo, e em sua própria versão dos fatos, um esteta. Ele inicia seu relato com uma das passagens mais famosas da literatura. Ele alerta que é um assassino e conjura o juri ao seu relato. Mas no final do primeiro capítulo, breves quatro parágrafos, todos são cúmplices de sua doença.

Quanto mais o leitor tiver em mente a situação do manuscrito em questão – escrito na prisão por um homem que, doente, espera seu julgamento –, mais engraçada a narrativa se torna. Humbert, naturalmente, se vende como alguém de uma linhagem nobre, e remonta sua obsessão por Lolita à um amor europeu contrariado de sua adolescência. Algo deprimente, após um divórcio recente, vai aos EUA lecionar literatura em uma faculdade do interior. Deseja escrever um livro pomposo sobre poesia francesa. Torna-se um potencial rei em uma cultura de provincia. Mas logo perde sua majestade: ao conhecer a filha da dona da casa onde aluga um quarto, é arrebatado de paixão e de desejo; em seu escritório, dedica-se a pensar em Lolita, ato que descreve em palavras bonitas que são evidentes disfarçes do onanista. A estória que narra é patética – toda trama de Lolita é patética. Mas é repleta de pequenas ironias que fazem com que o texto tenha vida e viço.

Diz o ditado: Quando Deus quer castigar um homem, Ele lhe dá exatamente o que esse homem mais deseja. Essa é a tragédia de Humbert Humbert: após as tramóias mais descaradas para se manter ao redor de Lolita o maior tempo possível, a fatalidade faz com que todos os obstáculos entre ele e seu desejo desapareçam. O que é felicidiade torna-se tragédia plena: ao materializar em Dolores aquele amor da juventude, eterno, e tê-lo agora em mãos, o conflito de Humbert é duplo – o desejo idealizado é perfeito, sempre satisfaz sem jamais pedir nada em troca, no entanto esse desejo idealizado, que vive na sua mente, não é uma menina minada e manipuladora como Lolita que ele tem que se desdobrar para conter; depois, o tempo atuará sobre a menina Lolita, envelhecendo-a, tornando-a menos perfeita, menos adequada para aquilo que ele precisa, menos objeto de expiação para as culpas que carrega em sua mente e imaginação. Em uma das passagens mais notáveis do livro, Humbert, após observar longamente Lolita e notar as mudanças de seu corpo, chama Dolores de “sua amante decadente”. É um toque de humor sinistro, mas que é revelador do grau de perturbação e alienação em que Humbert se encontra.

A tragédia de Humbert, sua danação, está na tristeza com que encara a evasão de seu Éden, o desmantelamento de seu paraíso pela ação do tempo, a revolta de sua musa pelo seu poeta, que cada vez a satisfaz menos, que cada vez se torna mais repressor e menos compreensível. Não há como voltar atrás: Humbert está tragicamente acorrentado ao desejo que sente por Lolita, e quando esse desejo se desmaterializa, quando a menina começa a se tornar mulher, ele só tem uma saída possível. Mas até esse seu plano é frustrado pela entrada de outro elemento, um perseguidor (e, logo, competidor). Que seu grande crime seja expurgar, como um justiçeiro, o mundo de um sujeito cuja imoralidade é tão canhesta como a sua apenas não é mais engraçada que notar, nas últimas frases do último parágrafo, que assim ele também elimina a possibilidade de outro escritor imortalizar pela prosa a memória da ninfeta Lolita. Obra-prima suprema do humor e da sofisticação, Lolita merece sempre novos leitores.

sábado, 7 de maio de 2011

Inscrições abertas! Oficina jornalismo cultural :: A escrita da resenha e jornalismo cultural, com Vinícius Jatobá

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O texto do jornalista Vinícius Jatobá é uma prévia do que será discutido na oficina de jornalismo cultural na Moviola. Inscrições abertas!

O suplemento literário do New York Times é, claramente, a mais fraca da cobertura cultural do poderoso jornal. É inconsistente e previsível, quando não absurdamente mal escrito. Há momentos luminosos, mas é sempre uma leitura superficial e rasteira. O problema talvez seja mais do péssimo momento literário estadunidense. Se Philip Roth, um ótimo autor cujos novos livros sempre leio, tivesse publicado nas décadas de 1940-60 dos EUA, ele seria claramente um escritor de terceira linha. O que não é ruim, de forma alguma, nem diminui a argúcia de Roth: apenas indica como a arte literária estadunidense era elevada, inclusive no romance de entretenimento policial, naquele período. Foi a Era de Ouro da literatura estadunidense. Os críticos do NYT têm que se virar com que existe no mercado editorial deles, e uma vez que os EUA não traduzem, os críticos vivem com as mãos atadas.

No entanto, o recente especial Why criticism matters do NYT foi interessante. Li todos os artigos com atenção. É um investimento inesperado e excêntrico dos editores do jornal. Escrevo resenhas de livros a uma década. E a cada vez que escrevo uma resenha, sempre me surge a questão da utilidade daquilo. A resposta padrão seria “ajudar na discussão cultural, separar o joio do trigo no caos contemporâneo” e um longo etcétera. Essa resposta não me satisfaz porque não reflete realmente o que penso quando escrevo uma resenha. Desde que li o especial ponderei sobre essa atividade que exerço por uma década já, e é realmente difícil determinar uma razão, um motivo e uma missão para a crítica. Cada resenha me parece muito particular.


O ponto de partida é factual: lê-se de forma diferente quando a intenção é escrever uma crítica. A relação que se tem com o livro determina o lugar de onde se lê esse livro, e a relação de um crítico com o livro é sempre frustrante porque um bom livro provoca muitas possibilidades de leituras, dezenas de fios possíveis. Então, é necessário escolher um impulso essencial. Há críticos que querem educar e gerar conhecimento, iluminar os leitores; outros que possuem uma agenda secreta e escrevem em jornais com imensa circulação para duas ou três pessoas; alguns desejam a comunhão, se integrar com certo grupo, e suas resenhas parecem propostas de namoro. Eu sempre desejei que o livro fosse lido. Parto desse ponto: quero seduzir o leitor a ler o livro porque esse livro me importa. Isso sempre limitou a imensa maioria de minhas resenhas à um grupo muito limitado de possibilidades porque o mercado editorial brasileiro publica muita coisa chata. Mas essa escolha tornou minha atividade de crítico uma festas sem fim: escrever apenas sobre o que gosto. Minha posição de crítico é hedonista: o que eu gosto e me dá prazer. E tento passar esse entusiasmo ao leitor.

Essa escolha pelo prazer, no entanto, entra em tensão com o caráter mais básico do jornalismo: informar. A posição do jornalismo hoje é completamente fragilizada pelo excesso do mundo contemporâneo: tudo é demais. Vivemos mergulhados, quando citadinos, em uma maré de estímulos. A informação hoje está disseminada (não digo democratizada, o que não é verdade), e o jornalismo parece confuso diante desse universo de coisas ágeis e frenéticas. O jornalismo cultural, principalmente, parece não se encontrar com muita facilidade. O jornalista que dá todas as coordenadas ao seu leitor, que informa datas de nascimento, que se limita a informar detalhes que o leitor pode encontrar em excesso em menos de um segundo em qualquer sistema de busca da internet, esse jornalista está à deriva. O leitor que se debruça sobre um suplemento literário tem acesso à toda essa informação, e suspeito que boa parte dos suplementos se tornaram obsoletos porque os críticos e jornalistas escrevem textos que são abertamente redundantes. Pode parecer equivocado, mas a função do crítico não é mais informar: é contagiar.
Sempre me pareceu contraditória a posição de objetividade do jornalista cultural: textos frios e calculados, com frases papai-e-mamãe, apegados aos famosos leads, etcétera. Livros provocam emoção – mesmo que seja de natureza racional. “O que pensa em mim está sentindo”, escreveu o poeta, e há insuspeitado Eros inclusive no onanista catedrático. O que me espanta é a luta dos suplementos para retirar toda e qualquer sombra de prazer de seus textos. É impossível escrever sobre livros ou cinema sem o uso de adjetivos, porque somente prazeres cínicos vêm desacompanhados; e toda essa assepsia provoca o estado das resenhas atuais: o medo do advérbio, a obsessão pelo ponto-final, o terror ao ponto-e-vírgula, o exílio do travessão. Correção, estoicismo, total bons-modos à mesa: e um total desinteresse do público ao que os suplementos oferecem.

É por isso que acredito ser a função do jornalismo cultural, e da crítica literária, contagiar e entreter. Contagiar, porque tem carga emocional, porque leva o público ao livro, porque encontra formas de transformar a literatura (ou cinema) de objeto à instrumento. E entreter porque deve ser escrita de forma a roubar o foco do leitor para o texto: seja pelo adjetivo bizarro, pela sintaxe maliciosa, o texto deve sempre colocar o leitor numa posição de se perguntar sobre o quê, afinal, está lendo. E deve entreter porque ninguém deveria ocupar o espaço público para entediar as pessoas. Como o século passado foi o século que encontrou seu maior vilão na “massa”, os abundantes pernósticos de plantão foram velozes em criar uma separação que nunca existiu antes na história cultural: cultura de massa e cultura “cultura”. Poucas palavras foram tão degradadas quanto entretenimento, a ponto de hoje ser quase um xingamento. Qualquer artista hoje em dia tem horror a dizer que quer entreter as pessoas (até mesmo pelo simples fato de que, no fundo, não deve possuir o domínio técnico e a argúcia necessários para raptar a atenção da audiência e/ou leitor). E creio que a função da crítica é apenas essa: raptar essas mentes, contagiá-las com emoção e idéias, e devolvê-las ao mundo com algum enlevo estético.
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