segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

dica-A Música Popular na Vitrola de Mario de Andrade

Provavelmente em meados de 1935, Mario de Andrade começou a ordenar sua discoteca particular mediante a substituição da capa original de cada disco por outra de cartolina lisa, numerando-a e nela escrevendo à mão suas observações de musicólogo, professor do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, folclorista e atento observador da pronúncia do português no Brasil.

A pesquisa de Flávia Camargo Toni resgata a ordenação da coletânea feita pelo próprio Mário a partir de 1935 e estabelece um catálogo que reúne grande parte das anotações dos discos e trechos pertinentes a elas extraídos de outros livros do escritor.

Algumas destas observações:

Sobre Urubatã (1929) em gravação de Pixinguinha:

“Disco admirável. Riqueza e beleza de combinações instrumentais. Alfredo Viana é o próprio Pixinguinha. O título Urubatã é digno de nota. Urubatã é um deus do Catimbó, cuja melodia registrei no Nordeste. Pixinguinha, macumbeiro contumaz carioca, denominando uma obra sua com o nome de Catimbó...A melodia recolhida por mim é completamente outra.”

Sobre O que há contigo? (1930) de Donga em gravação de Mario Reis:

“O samba de Donga é um modelo no gênero e está orquestralmente bem realizado.

Sobre Malandro (1930) de André Filho em gravação de Carmem Miranda:

“Mediocridades que chegam a ter interesse por causa duma flauta cem por cento nacional.”

Sobre Macumba – Canto de Ogum (1930) de Eloi Antero Dias e Getúlio Marinho com o Conjunto Africano:

“Uma peça notável de macumba traz admiravelmente expressa essa liberdade rítmica, que torna a linha oscilante e desnorteadora, é o ponto de Ogum. A rítmica está criada nele fugitivamente, e apresenta uma série de dois compassos ternários, seguida sempre de um compasso binário”.

O livro é acompanhado de CD com fonogramas originais da discoteca de Mário de Andrade. As fontes que originaram este trabalho comprovam que Mário de Andrade analisava os lançamentos de discos com ouvidos de estudioso de um fenômeno novo: a criação de produtos sonoros dirigidos ao mercado do lazer urbano.

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