quarta-feira, 7 de julho de 2010

Espinosa, Kieslowski e a afetividade humana


 Baruch Espinosa (1632-1677) e Krzistof Kieslowski são considerados os artistas do afeto. As linhas mestras da teoria da afetividade humana de Espinosa foram desenvolvidas em sua obra mais importante, a "Ética Demonstrada à Maneira dos Geômetras", onde discorre sobre a natureza dos afetos e paixões. Kieslowski, por sua vez, desenvolve toda uma cinematografia onde os pequenos gestos sobrepõem-se aos grandes atos. Na tradição moderna, e na visão de Kieslowski, o sublime irá se encontrar não só em grandes eventos, fatos históricos, mas no banal, no cotidiano.
É nesse cotidiano (banal e sublime) que percebemos que somos passivos na medida em que algo de que somos apenas a causa parcial, isto é, que não se explica apenas pelas leis de nossa natureza, se produz em nós. Somos passivos, portanto, "na medida em que somos uma parte da Natureza que não pode conceber-se por si mesma sem as outras", o que ocorre por sermos modos finitos existentes na duração. Ora, "é impossível que o homem não seja parte da Natureza e que não possa sofrer outras mudanças senão aquelas que podem ser compreendidas apenas pela sua natureza e das quais é causa adequada". Com efeito, embora o fato de sermos partes da Natureza não implique que sejamos apenas passivos, pois há efeitos que se explicam exclusivamente por nossa essência, é impossível que sejamos apenas ativos, pois, neste caso, seríamos dotados de uma potência capaz de superar todos os obstáculos exteriores e, consequentemente, seríamos imortais. No entanto, a Natureza é infinita, de forma que não há nenhuma coisa singular tal que não exista outra mais potente, pela qual ela possa ser destruída. Assim, estamos continuamente expostos à ação perturbadora das causas exteriores, e todo projeto moral que pretenda alcançar a imperturbabilidade mediante a supressão radical das paixões oriundas desses encontros é fruto da ignorância acerca de nosso ser no mundo."

A semelhança entre as teorias de Espinosa e a obra de Kieslowski podem ser vistas no filme "A Dupla Vida de Veronique", onde duas pessoas (fisicamente iguais e com o mesmo nome)em países diferentes e sem jamais terem se conhecido (exceto por uma breve e fortuita troca de olhares), tem suas vidas afetadas pela presença uma da outra.

A cena das marionetes é uma das mais bonitas do filme!


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