sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Diálogo (um dia antes das eleições)


-ESSA COISA de ganhar balanço levando voto a todos os espaços e a todos os momentos.
-Estamos no século da democracia: a população deve ter voz sobre todas as coisas.
-Até aqueles cuja voz...
-Até esses.
-Portanto: a população decidia tudo.
-Falava por exemplo de um jogo de futebol.
-Jogo que não passa de uma ditadura dos jogadores.
-O que propõe então é...
-Vou repetir: que a decisão seja dos espectadores do jogo, não dos jogadores.
-Muito bem.
-Em vez de 22 jogadores mais um árbitro decidirem, seriam 30.000 espectadores a fazê-lo. Por voto. É uma grande diferença. É só fazer as contas.
-Só valeriam os votos dos espectadores no estádio?
-Sim.
-É justo.
-E uma excelente maneira de levar as pessoas a ver o jogo. Iriam decidir mesmo o resultado. Valeria a pena a deslocação. Não me parece justo deixar algo tão importante – como o resultado de um jogo – apenas nas mãos (ou nos pés) de menos de duas dúzias de cidadãos.
-Neste caso, designados como: jogadores de futebol.
-Exatamente.
-O resultado dos jogos seria então determinado não por habilidades momentâneas, mas por decisões refletidas da população.
-Parece-me justo. Estamos no século do cérebro e do voto.
...
-Um jogo de futebol decidido pelos votos da população (dos espectadores em particular) e não pelos gols dos jogadores! São alterações como esta que transformam um país pouco desenvolvido num país avançado.
-São.
-Em vez de decisões com o próprio joelho, em vez de decisões deste tipo, musculares, físicas, não cerebrais e não democráticas, passar para decisões alargadas.
-Cada jogo de futebol seria assim uma espécie de referendo.
 -Sim, mas atenção: primeiro teria de se jogar.
-Os jogos fazem falta.
-As decisões seriam depois do jogo – e os indivíduos sérios iriam decidir-se pela vitória de um ou de outra equipe, independentemente dos gols, e não influenciados por paixões que pudessem existir antes, mas sim após uma reflexão lógica sobre o que realmente aconteceu.
-Manter um jogo apaixonante já não é digno de um século onde a racionalidade exige outro tratamento dos acontecimentos.
-Exato.
-Racionalidade e democracia, importância da opinião e do voto de cada cidadão: eis o futebol do próximo século.
-É justo.
-Quanto às eleições para decidir quem governa um país?
-Ah, sobre isso a minha opinião é que se deveria fazer um jogo de futebol à antiga: cada Partido escolhia onze jogadores e a equipe que marcasse mais gols ia para o governo.
-Parece-me sensato e racional.
-Digno deste século.
-Sim. Digno deste século.

Gonçalo M.Tavares.

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