‘Simbora, uau!’. Se tivéssemos que escolher uma gravação que fosse uma espécie de síntese do Samba-Jazz, uma ótima escolha seria o encontro entre Dizzy Gillespie e o Trio Mocotó. O lirismo ‘bop’ de um dos maiores trompetistas do jazz, aliado ao ritmo contagiante do trio brasileiro – que acompanhou Jorge Ben na virada dos anos 60/70 e, juntos, fizeram discos e shows antológicos – tornam este álbum um clássico instantâneo, item indispensável na discoteca dos amantes da boa música.
O mais inacreditável é que esta obra-prima permaneceu inédita por 35 anos. Durante esse tempo, ganhou status de ‘elo perdido’, já que muitos acreditavam que as fitas originais nunca seriam encontradas. Até que o produtor Jacques Muyal teve contato com o material e fez todo o esforço para que, finalmente, fosse apresentado ao público, em uma bela edição da Biscoito Fino.
O álbum é uma clássica ‘jam-session’: uma descontraída e alegre brincadeira entre os músicos. Dizzy estava numa grande fase, seu trompete soando macio & imaginativo, contrastando com a forte pegada rítmica do Trio Mocotó. Dá pra perceber que Gillespie procurava, à sua maneira, misturar as linguagens do jazz e do samba, e não sobrepor uma à outra, como aconteceu em muitas gravações envolvendo jazzistas americanos e percussionistas brasileiros.
Das seis faixas, destaques para ‘Samba’, que define bem o clima do disco, ‘Evil Gal Blues’ - um dueto vocal entre Gillespie e a cantora americana Mary Stallings – e ‘Rocking with Mocotó’ – esta última, uma catarse pré-canarvalesca, com a cuíca de Fritz Escovão rasgando o couro, João Parahyba e Nereu quebrando tudo nas percussões e Dizzy executando no trompete um tema que é praticamente uma marchinha de carnaval. Dá até para imaginar o trompetista no carnaval do Rio de Janeiro, caindo na farra em algum bloco pelas ladeiras da cidade. Outro personagem importante é o guitarrista Al Gafa, integrante da banda de Gillespie, que conseguiu integrar muito bem seu estilo à mistura musical que estava rolando no estúdio Eldorado, naquele hoje distante ano de 1974.
No mais, é colocar o disquinho prateado para rodar, e curtir um dos melhores lançamentos de 2010.
por Pedro Selector *
* Pedro Selector é trompetista e compositor, toca com BNegão & Seletores de Frequencia, Loucomotivos (Falcão / O Rappa), Comanches (banda carioca de samba-rock) e comanda diversos projetos solo.
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