sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Dizzy Gillespie no Brasil com Trio Mocotó

É com muita satisfação que Pedro Selector, trompetista de Niterói, residente do bairro das Laranjeiras, se junta à equipe de colaboradores do blog da Moviola e destrincha para nós esse petardo da gravadora Biscoito Fino. Seja bem vindo ao time, Pedrão!


     ‘Simbora, uau!’. Se tivéssemos que escolher uma gravação que fosse uma espécie de síntese do Samba-Jazz, uma ótima escolha seria o encontro entre Dizzy Gillespie e o Trio Mocotó. O lirismo ‘bop’ de um dos maiores trompetistas do jazz, aliado ao ritmo contagiante do trio brasileiro – que acompanhou Jorge Ben na virada dos anos 60/70 e, juntos, fizeram discos e shows antológicos – tornam este álbum um clássico instantâneo, item indispensável na discoteca dos amantes da boa música.

     O mais inacreditável é que esta obra-prima permaneceu inédita por 35 anos. Durante esse tempo, ganhou status de ‘elo perdido’, já que muitos acreditavam que as fitas originais nunca seriam encontradas. Até que o produtor Jacques Muyal teve contato com o material e fez todo o esforço para que, finalmente, fosse apresentado ao público, em uma bela edição da Biscoito Fino.

     O álbum é uma clássica ‘jam-session’: uma descontraída e alegre brincadeira entre os músicos. Dizzy estava numa grande fase, seu trompete soando macio & imaginativo, contrastando com a forte pegada rítmica do Trio Mocotó. Dá pra perceber que Gillespie procurava, à sua maneira, misturar as linguagens do jazz e do samba, e não sobrepor uma à outra, como aconteceu em muitas gravações envolvendo jazzistas americanos e percussionistas brasileiros.

     Das seis faixas, destaques para ‘Samba’, que define bem o clima do disco, ‘Evil Gal Blues’ - um dueto vocal entre Gillespie e a cantora americana Mary Stallings – e ‘Rocking with Mocotó’ – esta última, uma catarse pré-canarvalesca, com a cuíca de Fritz Escovão rasgando o couro, João Parahyba e Nereu quebrando tudo nas percussões e Dizzy executando no trompete um tema que é praticamente uma marchinha de carnaval. Dá até para imaginar o trompetista no carnaval do Rio de Janeiro, caindo na farra em algum bloco pelas ladeiras da cidade. Outro personagem importante é o guitarrista Al Gafa, integrante da banda de Gillespie, que conseguiu integrar muito bem seu estilo à mistura musical que estava rolando no estúdio Eldorado, naquele hoje distante ano de 1974.

     No mais, é colocar o disquinho prateado para rodar, e curtir um dos melhores lançamentos de 2010.

por Pedro Selector *

* Pedro Selector é trompetista e compositor, toca com BNegão & Seletores de Frequencia, Loucomotivos (Falcão / O Rappa), Comanches (banda carioca de samba-rock) e comanda diversos projetos solo.

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