terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Olivier Messiaens, Berlin e a 2a. guerra mundial.

No último dia 10, o grande compositor francês Olivier Messiaens (1908-1992) estaria completando seu centenário. Desconhecido do grande público, Messiaens foi também professor do Conservatório de Paris, tendo alunos como Stockhausen e Pierre Boulez. Grande defensor da fé católica, trabalhou como organista na igreja La Trinité em Paris, com a condição de „não perturbar a religiosidade dos fiéis com acordes anarquistas“. Em uma cooperação entre a Universidade das Artes de Berlin e a Kaiser-Wilhelm-Gedächtnis-Kirche (Igreja em memória ao Kaiser Wilhelm) aconteceu em Berlin a Musikfest zu Olivier Messeiaens 100. Geburtstag. Durante 10 dias, foram realizados concertos e palestras em homenagem ao compositor. Um dos pontos altos foi o concerto realizado no dia 5 de Dezembro, na própria Kaiser-Wilhelm-Gedächtnis-Kirche. Nessa noite foram executadas as obras Thème et Variations para violino e piano, La Merle Noir para piano e flauta e o Quatuor pour la fin du temps para piano, violoncelo, violino e clarinete, e sobre esta última vale algumas considerações. O Quarteto para o Fim dos Tempos foi composto num período único não só da história mundial como da própria vida do compositor. Messiaens juntou-se ao exército francês na 2a. guerra mundial e, em 1940, foi feito prisioneiro pelos alemães. Em um campo de concentração para prisioneiros de guerra, Messiaens compôs o quarteto para os instrumentos disponíveis na prisão. A obra foi estreada na ocasião para uma „platéia“ de presos e guardas. Possuindo oito movimentos, a obra traz também citações entre eles, incluindo trechos bíblicos e textos escritos pelo próprio compositor. O local da realização do concerto em Berlin, a Kaiser-Wilhelm-Gedächtnis-Kirche, deu um ar especial a apresentação. Um dos mais famosos pontos turísticos de Berlin, a própria igreja foi duramente bombardeada na 2a. guerra e hoje, da construção original, permanecem apenas as ruínas da torre principal (no belo filme Asas do Desejo de Wim Wenders, logo nas primeiras cenas, o anjo Daniel aparece no topo desta observando a cidade). Recomendo a audição da obra de Messiaens de ouvidos abertos. São obras de difícil compreensão inicial mas de imensa profundidade e sensibilidade. Por Marcelo P. Falcão

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado!
taí um exemplo de vanguarda com qualidade.

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