quinta-feira, 22 de abril de 2010

Matéria da VejaRio de 18/04/10

Tatiana e Gabriel Neves: filmes e cervejas importadas na Moviola

A locadora virou programa

O ritual do cliente na locadora era invariavelmente o mesmo. Ele circulava pela loja em meio a uma imensidão de DVDs, separados nas prateleiras por categoria: lançamentos, dramas, comédias, clássicos, nacionais, documentários, desenhos. Na ronda, escolhia um ou mais títulos, pagava no balcão e ia embora para casa ver o filme. No máximo, comprava uma pipoquinha ou um refrigerante. De uns tempos para cá, esse hábito mudou radicalmente, e a diversão, agora, começa dentro do próprio estabelecimento. Em um mercado muito competitivo, as videolocadoras se reinventam para fisgar o freguês, ultimamente um artigo de luxo nos corredores. Elas inovaram suas atrações e viraram um programa à parte. Passaram a abrigar sushi-bar, cafeteria, cervejaria, bistrô, sorveteria e iogurteria. Fora as prateleiras repletas de agendas, camisas e objetos de decoração com ilustrações de personagens e clássicos da sala escura. Pode-se dizer que as lojas hoje “também” alugam filmes. “É preciso diversificar”, aconselha Hélio do Amaral, um dos sócios da rede Vídeo Nacional e ex-presidente da Associação de Videolocadoras do Estado do Rio.

De fato, a locação deixou de ser a atividade fim em muitos desses pontos comerciais, como é o caso da Moviola, em Laranjeiras. Apesar de haver diversos bares perto de sua residência, no Cosme Velho, o empresário Gabriel Moura Neves e sua mulher, Tatiana, são frequentadores da casa, atraídos não exatamente pelo acervo de 6 000 DVDs. O que seduz o casal é a carta de cervejas do bistrô aberto no ano passado, que divide o salão com uma simpática livraria e prateleiras de filmes. Ao todo, ele oferece vinte rótulos raros da bebida, a exemplo da americana Flying Dog. “Só aqui encontro certas marcas importadas”, conta Neves. O horário de funcionamento passou a ser compatível com o de um restaurante e foi estendido até a meia-noite às sextas e aos sábados. Numa promoção típica de boteco, às terças a cerveja sai pela metade do preço durante a happy hour. Dentro da programação cultural há cursos e um cineclube em franca atividade. “Há quem chegue aqui para tomar um drinque ou participar de algum evento e se surpreenda ao ver que alugamos DVD”, revela o sócio Christian Fischgold. A estratégia deu certo. Com os novos atrativos, a casa ampliou o movimento e aumentou em 30% o volume de filmes alugados.

Pujante até meados desta década, a ponto de as Lojas Americanas adquirirem o gigante Blockbuster em 2007, o mercado de aluguel de DVDs aos poucos perdeu o vigor. A pirataria deslavada, a venda de filmes em grandes redes do varejo a preços razoáveis e o hábito de baixar longas-metragens pela internet acabaram por enfraquecer o setor. De acordo com a União Brasileira de Vídeo, em 2004 havia no país 12 000 lojas do ramo, número que despencou para 8 000 no ano passado. Os DVDs vendidos pelas distribuidoras exclusivamente para locação também sofreram um baque: caíram de 8,5 milhões para 4,6 milhões de unidades comercializadas entre 2006 e 2008. Com o consumidor à míngua, o jeito foi usar a criatividade para tentar recuperá-lo. Recém-inaugurada na Barra, a iogurteria Gutifruty é a aposta da Vídeo Nacional. A escolha se deu justamente por ser o ponto de pior desempenho entre os sete endereços da rede. A filial do Jardim Botânico inovou de outra maneira: ganhou uma temakeria, em que os cones de alga, sushis e sashimis podem anteceder os picolés importados de melão ou café com leite. Com 22 anos de mercado e três filiais, a Vídeo Estação foi pioneira na diversificação de ofertas. Seu forte são os produtos de decoração com motivos da sétima arte. Na locadora Macedônia, no Leme, há ainda uma série de produtos à venda, entre agendas, camisetas e objetos para a casa. Abriga ainda uma cafeteria. Como se vê, locadora também é a maior diversão. por Rafael Sento-Sé.

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